Há anos venho estudando o comportamento da mulher nos tempos atuais. Este espaço destina-se a analisar os reflexos (positivos e negativos) decorrentes do movimento feminista, através de textos escritos por mim e outros autores.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

BIG BROTHER BRASIL: UM PROGRAMA QUE INCOMODA




O BBB está na sua 12ª edição e, nos últimos anos, vem sendo criticado com muita veemência com frases como: “não é um programa cultural, nem educativo, não acrescenta informações e conhecimentos intelectuais aos telespectadores”; “gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa”; “os participantes são chamados de heróis”; “é a pura e suprema banalização do sexo.”

Proponho aqui outro olhar sobre este programa. Não pretendo defender a Globo e os seus dirigentes (é evidente que eles fazem de tudo para conseguir audiência), mas analisar o BBB como um programa que passa em vários países e que, sem sombra de dúvida, reflete a cultura do seu povo.

- “Não é um programa cultural, nem educativo...”. Concordo plenamente, mas podemos dizer o mesmo da maioria dos programas brasileiros. Por que só ele é tão combatido? É evidente a falta de cultura do povo brasileiro, assim como é evidente que os nossos governantes desejam que assim continue, porque é mais fácil manipular aquele que não tem o mínimo de conhecimento. Quem concorda com a frase citada acima e se incomoda com isso, é porque sente necessidade de se instruir e, por estar numa zona de conforto, prefere atacar a emissora a se esforçar para buscar mais conhecimento. Talvez a pessoa já seja alguém instruído, porém ainda se ache inculto tendo que buscar mais e mais conhecimento para provar a sua inteligência.

- ”Gays, lésbicas, heteros... todos na mesma casa”. Na vida real acontece o mesmo fenômeno. Categorias que antes eram marginalizadas, por puro preconceito, hoje estão inseridas no meio social e familiar. Isso incomoda muita gente... Como atualmente existe lei contra a discriminação, muitas pessoas não podem mais atacar diretamente estes grupos, então, usam o programa para um ataque indireto, demonstrando claramente o preconceito existente de forma velada.

- “Os participantes são chamados de heróis”.  Quantas pessoas que lutam para sobreviver, ou em prol de outros, deveriam merecidamente ser chamadas de “heróis”? Porém, aqueles que se incomodam com isso são os que desejam receber este título por méritos feitos, em outras palavras, não estão tendo o reconhecimento que gostariam de ter, desejando, no fundo, alimentar seu ego com este título. No dicionário um dos significados de herói é: “Pessoa que, por qualquer motivo, é centro de atenções”.

- “É a pura e suprema banalização do sexo”.  Percebe-se claramente que, já há alguns anos, os instintos estão soltos. Concordo plenamente que esta banalização está muito evidenciada, por outro lado, estamos vivendo a era do prazer imediato (sendo ele de qualquer natureza). Não existe mais o envolvimento e o compromisso com o(a) parceiro(a). Tudo se resume na busca pelo prazer. Na questão do incômodo, o sexo, para muitos, ainda é um tabu e um desejo proibido...

Por que o BBB incomoda? Assisti a todas as edições (inclusive a atual) e percebo que este programa reflete a sociedade brasileira. Em minha opinião, nós nos incomodamos porque nos deparamos com aspectos nossos refletidos nos participantes.

Uma novela, ou um filme, pode nos incomodar e/ou mexer com as nossas emoções. Sentimos raiva, tristeza, frustração, dor, alegria, romantismo... porém sabemos que aquilo é ficção. Ao contrário, no BBB por mais que se diga que tudo é programado pela emissora, lá no fundo fica uma pequena dúvida e no final sabemos que nem tudo é programado, sendo que, o que é apresentado, reflete a nossa realidade... e não dá pra fugir dessa questão. Por mais que a emissora queira instruir os participantes, é impossível alguém viver um personagem ininterruptamente que não seja ele mesmo.

As relações conturbadas, as traições, as alianças feitas para se fortalecer, as amizades (algumas verdadeiras, outras por carência), as estratégias para se manter no jogo... Jogo: esta é a palavra chave. Nos primeiros programas os participantes evitavam dizer esta palavra, com o passar do tempo ela foi se evidenciando cada vez mais.

E a vida? Não é ela um jogo também? Não somos todos heróis (e heroínas) neste jogo de sobrevivência? No BBB existe um objetivo claro: o prêmio em dinheiro. Na nossa vida não temos os nossos objetivos pessoais e criamos estratégias para alcançá-los? Em algumas ocasiões honestamente, em outras nem tanto... mas, com o objetivo final que é se manter vivo, em outras palavras, se manter no jogo da vida.

Quando surgiu o teatro grego, as peças apresentadas tinham como objetivo incomodar os espectadores, levando-os a refletir sobre a sua vida.  Por mais que a intenção da Globo seja ganhar audiência, seus dirigentes não conseguiram fugir a este incômodo. O BBB pode denotar a necessidade de um coletivo, neste período de transição que estamos vivendo, de refletir sobre as nossas próprias ações que trazem conseqüências nocivas, ou não, para a nossa vida e para o meio onde estamos inseridos. Vamos repensar este programa, a partir de nós mesmos?