Há anos venho estudando o comportamento da mulher nos tempos atuais. Este espaço destina-se a analisar os reflexos (positivos e negativos) decorrentes do movimento feminista, através de textos escritos por mim e outros autores.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

CONDICIONAMENTO


"Eu sei que a gente se acostuma. Mas não devia"
"A gente se acostuma a morar em apartamentos de fundos e a não ter outra vista que não as janelas ao redor. E, porque não tem vista, logo se acostuma a não olhar para fora. E, porque não olha para fora, logo se acostuma a não abrir de todo as cortinas. E, porque não abre as cortinas, logo se acostuma a acender mais cedo a luz. E, à medida que se acostuma, esquece o sol, esquece o ar, esquece a amplidão.
A gente se acostuma a acordar de manhã sobressaltado porque está na hora. A tomar o café correndo porque está atrasado. A ler o jornal no ônibus porque não pode perder o tempo da viagem. A comer sanduíche porque não dá para almoçar. A sair do trabalho porque já é noite. A cochilar no ônibus porque está cansado. A deitar cedo e dormir pesado sem ter vivido o dia.
A gente se acostuma a abrir o jornal e a ler sobre a guerra. E, aceitando a guerra, aceita os mortos e que haja números para os mortos. E, aceitando os números, aceita não acreditar nas negociações de paz. E, não acreditando nas negociações de paz, aceita ler todo dia da guerra, dos números, da longa duração.
A gente se acostuma a esperar o dia inteiro e ouvir no telefone: hoje não posso ir. A sorrir para as pessoas sem receber um sorriso de volta. A ser ignorado quando precisava tanto ser visto.
A gente se acostuma a andar na rua e ver cartazes. A abrir as revistas e ver anúncios. A ligar a televisão e assistir a comerciais. A ir ao cinema e engolir publicidade. A ser instigado, conduzido, desnorteado, lançado na infindável catarata dos produtos.
A gente se acostuma à poluição. Às salas fechadas de ar condicionado e cheiro de cigarro. À luz artificial de ligeiro tremor. Ao choque que os olhos levam na luz natural. Às bactérias da água potável. À contaminação da água do mar. À lenta morte dos rios. Se acostuma a não ouvir passarinho, a não ter galo de madrugada, a temer a hidrofobia dos cães, a não colher fruta no pé, a não ter sequer uma planta.
A gente se acostuma a coisas demais, para não sofrer. Em doses pequenas, tentando não perceber, vai afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá. Se o cinema está cheio, a gente senta na primeira fila e torce um pouco o pescoço. Se a praia está contaminada, a gente molha só os pés e sua no resto do corpo. Se o trabalho está duro, a gente se consola pensando no fim de semana. E se no fim de semana não há muito que fazer a gente vai dormir cedo e ainda fica satisfeito porque tem sempre sono atrasado.
A gente se acostuma para não se ralar na aspereza, para preservar a pele. Se acostuma para evitar feridas, sangramentos, para esquivar-se de faca e baioneta, para poupar o peito. A gente se acostuma para poupar a vida. Que aos poucos se gasta, e que, gasta de tanto acostumar, se perde de si mesma".
O texto acima foi extraído do livro "Eu sei, mas não devia", Editora Rocco - Rio de Janeiro, 1996 - Marina Colasanti


A gente se acostuma porque se deixa condicionar e no condicionamento não encontramos forças para reagir. O resultado são as doenças psicossomáticas, sendo que hoje a mais comum é a depressão.
Para reagir a esta situação uma das orientações é começar a mudar os seus hábitos. Preste atenção no seu dia e perceba quais e como são os seus atos mecânicos. Tomar banho, escovar os dentes, levantar da cama ao acordar são atos que fazemos mecanicamente e não nos damos conta de como fazemos. Observar os seus movimentos já é um grande passo para começar a tomar posse de si mesmo e não se deixar mais ser condicionado(a) pelas circunstâncias e/ou pessoas.


GEISA MACHADO

22 comentários:

  1. Olá, Geisa querida
    A rotina tira o encantamento do dia a dia inesperado e talvez mais lindo...
    Bjs de paz

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  2. E a gente se acostuma mesmo com tudo isso.
    Nossa, quanta verdade nessas palavras.
    Minha realidade não está muito distante disso tudo.
    E eu me acostumo e me acomodo e vou "sobrevivendo" e não "vivendo".
    Amei o texto escolhido e suas considerações finais.

    Querida, espero que não tenha ficado triste comigo por causa do meu e-mail, acho que você me conhece um cadinho e sabe de como não aprendi ainda o valor que tenho pra vocês.
    Beijos, cheios de carinho e saudades.
    Amo você.

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  3. Oi Geisa, que ótimo este texto,é assim que costumamos agir,quando menos esperamos estamos fazendo duas ou mais coisas ao mesmo tempo sem perceber cada uma delas separadamente, o rítmo que a vida nos impõe se torna frenético, e não temos esta lucides para parar e pensar, é um ótimo toque, precisamos perceber o quanto cada atividade ,o quanto cada pensamento,cada ação é unica.Quanto ao selinho foi o primeiro que recebi, fiquei super feliz, mas só ontem fui a casa da Elaine e ela me ensinou como fazer,aguarde eu o guardadei com muito carinho.Logo postarei.Beijos.

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  4. Geisa, vc sempre arrasa com suas postagens. Amei demais essa. Sabe quando vc lê aquilo que na naquela hora ,parece que foi escrito para vc? Senti isso.
    Estou acostumada. Mas tbm estou incomodada. Querendo sair dos costumes.E quero mudar algumas coisas. A começar por tomar um café antes de sair de casa.Hummm, seria um mimo, um carinho com meu corpo, comigo mesma. É um primeiro passo não é?
    Quero me desacostumar...

    E para não mandar bjo, o costume de todo mundo, vou te mandar um aperto de mão. Gostou? rs

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  5. Minha querida ,
    Nossa que texto hen , mas e pura verdade , me deu vontade de mudar rsrrs
    bjs

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  6. Querida amiga, parabéns pelo primeiro aniversário do seu blog, que outros venham pois os presenteados somos nós, com seus belos e inteligentes textos. Tenha um lindo final de semana. Beijocas

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  7. Olá Geisa! Passei no blog da Majoli e vi a recomendação dela para que visitássemos o seu blog. Aliás, estou em falta com ela, e com muitos outros. Às vezes não damos conta.
    Mas não é por mal.
    Gostei muito do texto escolhido por você, dá para pensarmos um bocado. Posso ficar aqui também?
    Beijos
    Glória

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  8. Este comentário foi removido pelo autor.

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  9. Oi minha querida.
    Eu amei a visita de vocês foi uma delícia rs.
    Dia 18 tem mais rs.
    O João amou vocês,ele é muito divertido eu sabia q ia gostar dele.
    É que vocês ainda ñ conheceram o lado palhaço dele,esteve muito doente estava se recuperando.
    Mas ele espera repetir a dose em breve.
    Um beijo grande,eu li a sua matéria o condicionamento sem perspectiva é muito complicado e se a gente ñ tiver habilidade de lidar com ele a gente se anula e é fato.
    Parabéns loira linda.
    Beijokas mil.

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  10. Meu imail é:angelabs05@hotmail.com
    Amada, as fotos quem me enviou foi a Sandra,aproveita e me envia as que a Elaine te deu pq eu ñ tenho rs.
    Vou colocar vocês pra tudo que é canto hua hua hua.
    A Sueli veio aqui em casa hoje para buscar a bolsa que ela esqueceu,agora ela ñ se perd mais rsrsrs
    Vamos combinar de vocês virem no meu restaurante,escutar um somzinho e desfrutar de nossa comida ok.
    Beijokas loira linda.
    Até dia 18 rs.
    Vou levar bolo gelado,umas cervejas,uns bombons sonho de valsa. A elaine vai amar rs.
    Beijos mil.

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  11. Oi querida amiga. Você é demais! Uma linda semana, mulher maravilhosa Geisa! Felipe

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  12. Olá Geisa sempre muito linda, este texto da Marina é demais... chega a combinar com o PPS que vc teve a gentileza de compartilhar - as palavras do Rabino - a respeito do descanso.
    Maravilhoso Geisa, tinha que ser você.

    Vamos convencer os nossos amigos e amigas a entender e colocar em prática aquelas sábias palavras?

    Beijos Geisa querida, vc é do coração, ZC

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  13. ola!! Bom dia!! seu post fala verdades de muitos, o ser humano no todo, se acostuma com tudo, e com isso vamos vivendo mais ou menos, mudar é a palavra de ordem, porque isso não é viver é sobreviver.
    òtimo domingo pra vc e uma ótima semana. bjos e se cuida, já te sigo.

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  14. GEISA,

    admiro Marina Colassanti e desde muito nova quando esbanjava sensualidade, beleza e me atraía, sinceramente como escritora e mulher.

    Cheguei a desejá-la em fantasias,afinal de descendência italiana como eu, até que daria uma bela macarronada, daquelas bem suculentas com linguiça calabresa.

    Mas, ai, veio o seu casamento com o escritor e poeta Affonso Romano de Sant'Anna e então acordei, pois fiquei me acostumando durante muito tempo em só querer platonicamente e, então, como diz a vagadundagem aqui no Rio de Janeiro: Perdi!

    Se não tivesse me acostumado e se tivesse ido a luta, talvez ela hoje se chamasse Marina Colassanti Tamburro, e convenhamos um nome muito mais sonoro, diferente, fora das convenções.

    Se mais feliz, bem...não sei!

    Fico me acostumando às fantasias de que as mulheres que desejo, me esperarão para o resto da vida.

    Fico me acostumando a pensar que meu querer já é suficiente para ter as pessoas.

    Fico me acostumando com estes amores platônicos e no final, chega outro, às vezes até outra (SIC) e grita: Perdeu!

    Fico me acostumando com o fato das pessoas terem a obrigação de respeitarem meus sentimentos, e a maioria nem sabe sobre os tais sentimentos que nutro por elas.

    Fiquei muito mal acostumado, muito mal acostumado mesmo, e hoje querendo dar uma virada nesta vida de espera,sem nunca alçançar, paradoxalamente continuo esperando pelo trem-bala e aí quem sabe eu esqueço aquela época da trem Maria- Fumaça, vagaroso,movido a carvão, soltando pela chaminé imensas nuvens de negras fumaças, mas , por outro lado,romântico, em extinção, perdido extamente, como eu, na pretensão de que, na vida quando você se acostuma a ser lento , com certeza é atropelado pelos apressadinhos e ainda mais pelos "espertos".

    No entanto, se por um lado pago o preço da derrota de não alcançar tudo que eu quero, ganho por outro, a leveza da sensação de que, por ter sido sempre mal acostumado e lerdo, ainda, não ter sido necessário negociar minha felicidade, com a improbabilidade dos fatos que me bate a porta na cara.

    Agora , portanto, tenho andado mal acostumado em admitir o improvável.

    Não tenho, realmente solução.

    Afinal, onde já se viu alguém ficar acostumando-se com o improvável?

    Um abração carioca!

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  15. Ge... que saudade! Primeiro quero te parabenizar pelo aniversário de 1 ano do seu blog e agradecer por continuar perseverante. O seu texto acima reflete bem como muitas vezes vivemos numa prisão. É por isso que quero voltar a fazer terapia contigo em 2011.
    Eu sumi novamente pois bati meu carro no dia 16/11. Acabei com ele Ge. Bateu toda a lateral esquerda numa Fiorino e entrei com o lado direito num caminhão... A previsão para ele ficar pronto é 17/12. Esse ano está uma coisa viu. Sem terapia para aguentar, não dá. Fique com Deus... beijos

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  16. Geisa, eu até gosto da rotina, mas tudo demais é veneno... até mesmo as coisas que a gente tanto gosta. Como acredito nisso, me policio, sim, com as ações automatizadas. É por isso que mudo o caminho que faço rotineiramente de vez em quando, por exemplo, dentre outras coisas. Fazer isso me faz prestar atenção em coisas que não noto no dia a dia, ou perceber sons antes despercebidos. Você tem toda razão. Cuidar para não se condicionar é fundamental. :D

    Beijos,
    Lidi

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  17. Amiga foi pra mim este texto..?
    Caraca!
    Aqui sempre aprendo mais e mais.
    Obrigado viu pelo carinho no Flores Secas.
    Te espero no sabado heim...
    Amooooooooooooooooooo
    Bjos achocolatados

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  18. Olá Geisa!
    A gente se acostuma a quase tudo, ou faz de conta que nos acostumamos, às vezes até nos acostumamos até a suportara a fome.
    Mais um excelente texto, que fala de todas estas verdades, onde as pessoas vivem dentro dos seu apartamentos enclausurados
    Dese-lhes um Feliz Natal
    cheio de Alegria Saúde,
    felicidade e muito Amor.
    Que 2011 lhe permita a realização
    de todos os seus sonhos e desejos.
    obrigada, por ter estado comigo
    ao longo de todos estes dias

    Até breve
    beijinho,
    José.

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  19. Olá Geisa,tudo bem querida?
    Amo Marina Colassanti,e esse texto é muito bom.Sua crítica melhor ainda.A gente se acostuma mesmo e depois sair do círculo vicioso que criamos é bem difícil.Mas tenho que lhe agradecer porque estava num circulo depressivo e nem estava percebendo quanta angustia estava extravasando em minhas postagem.Você deu meu grito de alerta e ao sugerir-me comprar o livro de Cristina Cairo "A Linguagem do Corpo" praticamente salvou-me da depressão total.
    Hoje ainda não posso dizer que saí da depressão mas já melhorei muito.Estou sendo acompanhada por uma Psicóloga muito boa que tem me ajudado bastante.
    Obrigada pelas palavras de incentivo que muito ajudaram-me.
    Seja muito feliz,é o que desejo de todo coração.
    Beijos
    Teca

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  20. Com certeza Geisa este texto sibilou como uma rajada de metralhadora, avassalador ,atingindo a todos sem dó e compaixão...Mas com precisão necessária. Muito oportuna esta sacudida que só estimula reações positivas de exame de postura e necessidade de mudança...Esta reside em nós.Temos o costume de sempre procurar culpados em nosso entorno quando somos os verdadeiros responsáveis por nossa acomodação diante dos problemas que surgem ou que criamos na nossa vida. Parabéns pela postagem! Feliz Natal! Beijos.

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  21. Parabéns pelo seu Blog. A Blogsfera tem destas coisas, faz maravilhas.
    Também tenho um Blog que pode ser consultado: aveiro123.portaaberta.blogspot.com
    Podem colocar ali os vossos comentários que eu responderei com muito prazer

    Amigavelmente,
    Joaquim Carlos
    Aveiro - PORTUGAL

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  22. Olá linda! Adoro o mundo feminino, ler poetisas, falar de mulher e outrossim. Em meu blog, nunca falta assunto sobre mulher e sobre tal questão, você está de parabéns! Adorei teu blog e estou te seguindo, caso queira seguir-me também, veja:http://asvozesdomar.blogspot.com/

    Paz e amor!

    Abç!

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